*Ao lado do nome, coloque também sua cidade!

As Missões  

No Sul não existem somente praias, cidades serranas e belezas naturais únicas em todo o Brasil. No inverno ou no verão, pode ser visitado um "país" diferente, esquecido pelos livros de história, marginalizado pelos roteiros turísticos tradicionais e muito pouco conhecido em quase todo o Brasil. Os seus contornos nunca foram muito bem definidos, embora bastante amplos. Antigamente entrava-se nele a partir do rio Paranapanema, na divisa com o Paraná, percorrendo-se suas fronteiras até o extremo meridional do continente, nas costas do atual Uruguai.
Com o tempo, porém, suas fronteiras foram sendo reduzidas e o acesso passou a se dar pelo médio rio Paraná e rio Uruguai até que, simplesmente, desapareceu dos mapas e entrou na história, como uma prematura experiência comunista, muito antes da revolução russa e do próprio Marx. Nos tempos modernos, foi também o mais revolucionário estado teocrático, que deu início à industrialização da América Latina, reunindo, ao mesmo tempo, uma extraordinária arte musical e plástica, com uma vigorosa disposição para a luta, uma hora em defesa do Evangelho e outra ao lado das armas da Corona espanhola.
Trata-se da República Guarani, que, por cerca de 200 anos, ocupou áreas dos atuais Estados do Paraná e Rio Grande do Sul, e ainda do Paraguai, Argentina e Uruguai, onde foram edificadas dezenas de reduções - as missões -, que levaram, para as selvas do Cone-Sul, sob um duro comando dos padres jesuítas, o esplendor da arte européia e um desenvolvimento urbano que muitas cidades ainda não conhecem, já passado tanto tempo.
As reduções não eram aldeias, mas verdadeiras cidades que se instalavam nas selvas, com toda a infra-estrutura; além da igreja, que era o centro de tudo, havia hospital, asilo, escolas, casa e comida para todos e em abundância, oficinas e até pequenas indústrias. Fabricavam-se todos os instrumentos musicais, tão bem quanto na Europa, por exemplo. Imprimiam-se livros em plena selva, alguns até em alemão.
Possuíam observatório astronômico e até editavam uma carta astronômica e um boletim meteorológico. Foi nessas reduções que se começou a industrializar o ferro, a produzir os primeiros tecidos, e a se criar gado no continente. Foi esse gado, espalhado pelos pampas de todo o Sul, que acabou definindo a vocação econômica do Rio Grande do Sul: a pecuária, de alguma forma ligada a todos os seus acontecimentos históricos.
Ocupavam essas reduções os índios guaranis e tapes - do mesmo grupo -, atraídos pela pregação do Evangelho feita pelos padres jesuítas, decididos a criar uma série de repúblicas teocráticas no continente, baseados na experiência socialista dos incas, no Peru, onde, aliás, haviam iniciado outro agrupamento semelhante, reunindo os índios chiquitos.

LENDAS

Havia uma lenda entre os índios, segundo a qual deveriam seguir os que, um dia, lhes aparecessem com uma cruz, falando de Deus. A orientação teria sido dada, no início da era cristã, por um pregador confundido com o (suposto) apóstolo Tomé, por um dos jesuítas que construiu a República Guarani. Foi o que ajudou os padres a sensibilizar os índios.
Foi feita ainda uma tentativa de catequizar os guenoas e os charruas, mas não foi bem-sucedida. Eram inimigos dos guaranis e viviam em lutas com eles. Mas, com os guaranis, foi feita uma revolução: os mestres da pintura e da escultura eram imitados, nas reduções, com uma perfeição extraordinária, avaliada em diversas oportunidades por europeus, que se impressionavam não somente com os trabalhos de artes plásticas ali realizados, mas também com o cuidado como, em estilo gótico, os índios reproduziam documentos, igualando-se aos melhores copistas da Idade Média.
De tudo o que foi feito, resta muito pouco para ser apreciado. Mas, se é pouco, é suficiente para dar uma idéia do que aconteceu nas selvas do Sul, embora importantes sítios arqueológicos estejam escondidos sob centros urbanos e verdejantes plantações de milho e soja. A chamada República Guarani não chegou a se tornar independente e nem havia essa pretensão, ao menos segundo os documentos disponíveis. Jesuítas e índios deviam obediência ao trono espanhol, pagavam-lhe seus impostos, e chegaram a ser importante braço armado não só para conter a expansão portuguesa, como para dominar rebeliões e ameaças de invasão, surgidas em diversas oportunidades.
Apesar disso, a possibilidade de independência da República Guarani sempre foi a grande arma dos críticos dos jesuítas. Em folhetos que circulavam na Europa, chegava a se apresentar o velho cacique Nicolau Nhenguirú, como Nicolau I, rei do Paraguai, procurando indispor o trono espanhol contra os jesuítas. Foi tanta a agressão, que os padres acabaram sendo derrotados.
Trocada a Colônia de Sacramento - que os exércitos guaranis ajudaram a conquistar para a Espanha - pelos Sete Povos das Missões, na margem esquerda do Rio Uruguai, atual território do Rio Grande do Sul, foi deflagrada a guerra guarani contra as coroas espanhola e portuguesa, porque os índios não aceitavam ter que abandonar suas terras e cruzarem o rio em direção às reduções da margem direita, na atual Argentina.

EXPULSÃO

Depois de grande conflito, com milhares de mortos, especialmente de índios, Portugal e Espanha voltaram atrás, mas logo dariam o golpe definitivo contra as reduções, expulsando os jesuítas e deixando os guaranis sem qualquer coordenação. Seguiram-se administradores militares e os índios acabaram sendo transformados em guerreiros, nos diversos episódios militares ocorridos no Prata, sendo exterminados completamente nos 60 a 70 anos que se seguiram à expulsão dos jesuítas.
Destruídas primeiro pelos bandeirantes, depois pelas tropas de Portugal e Espanha e, no lado paraguaio, pelo próprio ditador do novo país, após sua independência, restou pouco das reduções para ser visto nos dias atuais, mas, nas ruínas que ainda são mantidas, há alguma coisa da velha república para apreciar, entrando-se num importante capítulo da história do Sul, muito mal contado em nossos livros.
Os jesuítas cerceavam completamente a liberdade dos índios, mas, à luz da pregação do Evangelho, indiretamente intimidando-os com os conceitos sobre céu e inferno e salvação da alma, conseguiram transplantar da Europa para o interior de nosso continente, há mais de 350 anos, costumes avançadíssimos, uma arte refinada e um modelo utópico de administração - com propriedade coletiva, sem classes e sem governo, e sem oposiçào entre cidade e campo -, que Clóvis Lugon, em seu livro "A República Comunista Cristã dos Guaranis", chegou a definir como "a mais fervorosa das sociedades cristãs e a mais original das sociedades comunistas". E que foi, como assinalou, "comunista demais para os cristãos burgueses e cristã demais para os comunistas da época burguesa".
A República Guarani pode ser visitada com facilidade, por estradas de asfalto. Três ou quatro dias é o suficiente para admirar o que restou. Igrejas e casas de pedra semidestruídas por incêndios, abandono e a depredação dos moradores das vizinhanças que ocorria até recentemente; algumas dezenas de imagens e de trabalhos nas pedras das construções, são as últimas evidências dessa experiência teocrática.
Passadas tantas batalhas - no sentido literal da palavra -, essas igrejas e obras de arte não têm mais a riqueza de antigamente, com trabalhos em ouro e prata, que os índios importavam do Peru, mas, com o que resta, pode se ter a certeza de encontrar na região lembranças inesquecíveis.
A lenda de Pai Zumé
Entre Santos e Assunção (Paraguai), e o Peru, os índios diziam existir, antigamente, pegadas de um pregador carismático, a quem chamavam de "Pai Zumé", na grande província espanhola do Paraguai, e de "Pay Tumé", nas terras do atual Peru.
Contava-se que, de pai para filho, foram transmitidos alguns ensinamentos do pregador, como o de que "a doutrina que eu agora vos prego, perdê-la-ei com o tempo. Mas, quando depois de muitos tempos, vierem uns sacerdotes sucessores meus, que trouxerem cruzes como eu trago, ouvirão os vossos descedentes essa doutrina".
A citação foi feita em 1639 pelo padre jesuíta Antonio Ruiz de Montoya, que, percorrendo o sertão paraguaio e o atual Estado do Paraná, acompanhado de sua cruz, procurava remontar os passos de "Pai Zumé", visitando locais onde existiam pegadas centenárias, que ele, unindo suspeitas próprias às lendas dos indígenas, acreditava ser do apóstolo São Tomé - aquele que quis ver as chagas de Cristo na primeira aparição deste aos apóstolos, após a ressurreição, como ensina a Bíblia.
Os índios que transmitiam a lenda ao longo do tempo foram os primeiros a sensibilizar-se com a causa cristã, ao ver os jesuítas aparecerem em suas aldeias, condenando os enormes haréns e obrigando todos a se batizar, assistir missas, rezar, cantar etc.
Tendo ou não cruzado a região há quase dois mil anos atrás, pregando, São Tomé e sua lenda ajudaram em muito a implantação das primeiras reduções que iriam constituir a florescente república que atualmente poucos conhecem - a dos guaranis, nosso primeiro estado industrial, cultural e militar na América Latina, com bases teocráticas.

A chegada dos jesuítas à América

Os jesuítas chegaram à América com algum atraso em relação a outras ordens religiosas - existem registros de que aportaram pela primeira vez, em terras espanholas, na Flórida, atual Estados Unidos, em 1567, e, no Peru, um ano depois. Na Argentina chegaram em 1586 e, no Paraguai, em 1588, setenta e dois anos após o início da colonização espanhola em áreas do atual país, que, antigamente, era o mais próspero do Cone Sul.
Ao Brasil, os jesuítas chegaram pouco antes, em 1549.
Tanto quanto aconteceu depois no Brasil, os espanhóis logo se interessaram por utilizar os índios como escravos, pois ainda não se instituíra o tráfego negreiro entre a África e a América. Conta-se que somente um tenente subordinado ao governador de Assunção, Martinez de Irala, subjugou, em 1557, cerca de 40 mil índios. A caça foi tão sistemática que, em 250 anos, até ao final do século XVIII, a população indígena do Paraguai caiu de um milhão para pouco mais de 8.200 pessoas.
Os índios, obviamente, não se entregaram sem reagir. Em 1558, destruíram parte de Assunção, acabando por ser massacrados dois anos depois.
Mas distantes da capital, em local de difícil acesso que era conhecido como Guairá, numa vasta região que ia da atual cidade de Guaíra, no Paraná, à confluência dos rios Paraná e Paranapanema - ao norte das cidades de Londrina e Maringá -, subsistiam, no entanto, pelo menos mais 150 mil guaranis, que se tornavam ameaça constante, e os espanhóis admitiam não ter condições de enfrentá-los.
Quase ao mesmo tempo em que os espanhóis de Assunção chegavam a essa conclusão, o rei Felipe III, da Espanha, foi convencido pelos jesuítas a proibir a escravização dos índios, permitindo que fossem reunidos em reduções para serem catequizados. Aí eles passariam a produzir e, inclusive, a gerar impostos. Esta foi a origem das reduções e da chamada República Guarani.

Primeiras reduções

Embora a República Guarani seja a experiência mais importante de implantação de um estado teocrático em tempos mais recentes, formaram-se, no continente americano, outras reduções, sempre sob o controle dos jesuítas, que pretendiam formar um cordão de pequenas repúblicas até o Alto Amazonas.
Eles deram sequência ao seu ambicioso projeto formando as chamadas repúblicas Chiquita e dos Moxes, na Bolívia atual, outras reduções às margens do rio Mamoré, e pretendiam que houvesse uma comunicação entre os diversos grupos, o que acabou, no entanto, nunca ocorrendo.
O sistema de redução dos índios, antes mesmo da autorização real, havia sido instituído após o Sínodo de 1603, em Assunção, que reuniu, além de jesuítas, autoridades e o próprio governador Hernandárias de Saavedra.
A primeira redução, fundada perto de Assunção, foi a de San Ignácio, identificada depois como San Ignácio Guazu, pois, em 1612, os padres João Cataldino e Simão Maseta constituíram uma nova San Ignácio - desconhecendo a primeira - que, no futuro, foi identificada como San Ignácio Mini.
Na época, quase todo o território paranaense, assim como o atual Rio Grande do Sul, se encontrava sob dominação espanhola. Na região do atual Paraná, existiam somente duas vilas, que apoiavam as frentes de colonização: Ciudad Real Del Guairá, onde atualmente se situa Guaíra, no Paraná; e Vila Rica do Espírito Santo, mais ou menos onde está a atual cidade de Fênix, no Norte do Paraná, a cerca de 90 quilômetros ao sul de Maringá.
Para ir de Guairá ou Ciudad Real até Vila Rica, seguia-se pelo rio Paraná, tomando-se o rio Ivaí, na altura da atual cidade paranaense de Querência do Norte. Os padres Cataldino e Maseta, no entanto, em vez de seguir pelo rio Ivaí, continuaram pelo Paraná até o rio Paranapanema e, por este, seguiram até a confluência com o Pirapó, próximo às atuais cidades de Teodoro Sampaio (SP) e Jardim Olinda (PR). Ali, formaram, no final de 1610, a redução de Nossa Senhora de Loreto. Como esta logo ficou superpovoada, fundaram, em julho de 1612, a redução de San Ignácio, duas a quatro léguas adiante, onde atualmente se situa a cidade paranaense de Santo Inácio, ao Sul de Itororó do Paranapanema (SP).
Expansão das reduções no Paraná
San Ignácio Guazu havia sido fundada pelos padres Marcial de Lorenzana e Francisco de San Martin, pouco tempo depois substituídos pelos padres Roque Gonzalez e João Romero, que também se encarregaram de expandir a redução dos índios nas províncias do chamado Tape, atual Rio Grande do Sul, e (do rio) Uruguai, em áreas do Rio Grande do Sul (margem esquerda) e da Argentina (margem direita). Essa expansão no Tape e Uruguai ocorreu ao mesmo tempo que, em terras do Guairá (rios Paranapanema, Ivaí, Pirapó e Tibagi adentro), se dava o desenvolvimento rumo ao Norte, comandado pelos padres João Cataldino e Simão Maseta.
Por Província do Uruguai entenda-se especialmente o Noroeste, Oeste e Sul do atual Rio Grande do Sul, onde habitavam principalmente os índios guenoas, charruas, minuanos, entre outros, que nunca foram catequizados. O Tape, reunindo os índios guaranis propriamente ditos (tapes e arachanes, principalmente), estendia-se de Norte a Sul pelo centro do atual Rio Grande do Sul, entre a Serra Geral e a Lagoa dos Patos. À direita ficava a Província de Ibiaça, concentrando diversas tribos dos índios ibirajaras - como os guaranis, um dos ramos do grupo jê -, inimigos dos guaranis, dos padres, e aliados dos bandeirantes e tupis nas bandeiras que, nos anos seguintes, devastaram as reduções.
Entre 1612 (ano da fundação de San Ignácio Mini) e 1630, os jesuítas fundaram no Guairá (atual Estado do Paraná) mais 12 reduções, além de Nossa Senhora de Loreto e San Ignácio: São Francisco Xavier (possivelmente entre as cidades de Santa Cecília do Pavão, Irerê e Londrina), Encarnación (próximo à atual cidade de Telêmaco Borba); São José (possivelmente nas imediações das atuais cidades de Bela Vista do Paraíso e Sertanópolis); São Paulo (em local desconhecido, mas possivelmente no centro do Paraná); Arcangeles (em local isolado e de difícil acesso no centro do Paraná, possivelmente à leste de Ivaiporã); São Miguel (possivelmente nas imediações da localidade de Laranjeiras, ao noroeste de Castro, já próximo a Ponta Grossa, no Sul do Estado); Santo Antônio, São Tomé, São Pedro (possivelmente nas imediações dos municípios de Ivaiporã, Manoel Ribas e Grandes Rios); Jesus Maria (possivelmente entre Portos Planaltina e São Carlos, às margens do rio Ivaí); e, finalmente, Santa Maria a Maior e Natividad, únicas no rio Iguaçú e muito afastadas das demais. Estas foram as últimas a serem fundadas, em 1630, pouco antes das Cataratas do Iguaçú, certamente em áreas do Parque Nacional do Iguaçú.
Acredita-se que, em 1630, as 14 reduções do Guairá (ocupando, com suas estâncias, quase todo o Estado do Paraná) reuniam entre 70 e 100 mil índios.
Na primeira fase da República Guarani, antes dos ataques dos bandeirantes ocorridos ao Norte e Sul de suas reduções, a formação de aldeamentos em áreas do atual Paraguai e da Argentina, foi pequena.
Entre 1615 e 1627, graças, principalmente, à ação do padre Roque Gonzalez, foram formadas entre os rios Uruguai e Paraná somente umas poucas reduções: Encarnación ou Itapua, que, pelos mapas disponíveis, se situaria na margem esquerda do rio Paraná, mais ou menos onde atualmente está a cidade argentina de Posadas.
Do outro lado do rio, em território paraguaio, existe hoje a cidade de Encarnación, onde, numa fase posterior, se formou outra redução. Além de Encarnación fundou-se ainda Corpus Christi, que, pelos mapas disponíveis, estaria no lado paraguaio e não à margem esquerda do rio Paraná (em território argentino), onde no momento se encontra a cidade de Corpus, local a que foi transferida a redução numa fase posterior.
Já na margem direita do rio Uruguai, em atual território argentino, surgiram, ainda na primeira fase das reduções, os aldeamentos de Concepción (próximo a San Javier) e Yapeyu (ou Los Reys, na foz do rio Ibicuí), onde ainda existem localidades com esses nomes.

As reduções do Grande do Sul

No território do atual Rio Grande do Sul foram fundadas, entre 1626 e 1634, dezoito reduções, sendo a primeira delas a de São Nicolau, em 1626, seguindo-se, ainda na área de influência do rio Uruguai, às margens dos rios Ijuí e Piratini, as de São Francisco Xavier, Candelária do Piratini, Todos os Santos do Caró ou Mártires, Assunção do Ijuí, Apóstolos e São Carlos do Caapi.
No Tape propriamente dito, na área de influência dos rios Ibicuí e Jacuí, foram fundadas, à margem do Ibicuí e afluentes, as reduções de Candelária do Ibicuí, São Tomé, São José, São Miguel (que não é a redução de São Miguel das Missões, da qual ainda existem ruínas, no atual município de São Miguel das Missões, próximo a Santo Angelo, e que é da segunda fase da expansão das Missões no Estado); e São Cosme e São Damião.
Às margens do Jacuí e afluentes, foram fundadas Santa Teresa (a mais setentrional), próximo à atual cidade de Passo Fundo), São Joaquim (mais ou menos próxima ao atual município de Barros Cassal), Sant'Ana, Jesus Maria e São Cristóvão - na área compreendida entre os atuais municípios de Santa Maria, Santa Cruz do Sul e Cachoeira do Sul -, sendo a de São Cristóvão a última a ser fundada, e também a mais avançada para leste, a menos de 200 quilômetros da atual Porto Alegre.
Quase todas as reduções do Tape repetem nomes que já haviam sido dados a reduções no Guairá, mas essa não é somente uma coincidência. Quase todas foram destruídas por bandeirantes nos anos seguintes e os índios sobreviventes deslocaram-se para novos lugares, concentrando-se especialmente entre os rios Uruguai e Paraná, em território argentino, onde poderiam proteger-se melhor e estariam mais bem garantidos pela Coroa espanhola. Com isso iniciou-se a segunda fase dos aldeamentos, a mais próspera economicamente, e da qual existem ainda algumas ruínas.
Os últimos vestígios da primeira fase talvez possam ser encontrados apenas na cidade paranaense de Santo Inácio, ao Norte de Maringá. Nos outros locais foi tudo destruído e, possivelmente, para as populações dos municípios onde antigamente se situaram as reduções, será uma novidade a informação de sua inclusão, no passado, em áreas da chamada República Guarani.
O início do ataque dos bandeirantes
A formação das reduções não livrou os índios dos ataques dos chamados "encomenderos" que, no lado espanhol, procuravam aprisioná-los para reforçar os contingentes de escravos, especialmente de Buenos Aires e Assunção. E ainda atraiu os bandeirantes, que, procedentes de São Paulo, também procuravam escravos para trabalhos no campo e nas cidades. Atacadas por todos os lados, as reduções não resistiriam muitos anos em sua primeira fase, tendo que alterar a sua geografia.
Os índios não eram "bons" escravos. Historiadores da época calculavam que, de cada cem aprisionados, não mais do que um era de alguma utilidade. A maior parte morria no caminho entre as missões destruídas e São Paulo. Outra parte expressiva não resistia a pestes e doenças e, dos sobreviventes aos primeiros tempos do cativeiro, poucos se prestavam a algum serviço.
Para não se tornarem escravos, recorriam, às vezes, a gestos desesperados, como o verificado nos arredores de Buenos Aires, na primeira metade do século XVI: um grupo de guerreiros refugiado numa fortaleza, matou com as próprias mãos esposas e filhos, lançando-se depois para a morte, do alto de alguns rochedos.
Como os ataques se intensificaram depois dos primeiros agrupamentos em reduções, os próprios jesuítas, em determinada época, passaram a ser vistos pelos índios com muita desconfiança.
Mas a história registra um episódio que eliminou completamente essas suspeitas: depois da destruição, em 1630, das reduções de Santo Antônio, São Miguel e São Francisco Xavier - todas elas na então Província do Guairá, atual Estado do Paraná -, os padres Simão Maseta e Justo Marsilha decidiram acompanhar a caminhada de cerca de 15 mil índios que eram levados como escravos para São Paulo, procurando obter sua libertação e socorrendo os necessitados.
Salvaram apenas alguns, que devolveram às reduções, mas prosseguiram a caminhada. Nos contatos que fizeram em São Paulo, não conseguiram libertá-los; no Rio, quando o governador e capitão-geral do Brasil mandou que fosse feita "imediata justiça", os índios já haviam sido vendidos. Procuraram ainda o governador-geral, na Bahia, mas também sem sucesso. De volta às missões, o problema cresceu.
Os ataques de bandeirantes às reduções jesuíticas no Guairá - ou seja, em território do atual Paraná - começaram em 1618, apenas seis anos após a formação dos primeiros povoamentos. A partir de 1628, no entanto, os ataques passaram a ser feitos por verdadeiros exércitos, devastando-se primeiramente a redução de Encarnación (uma das mais próximas São Paulo, mais ou menos onde se localiza a atual cidade de Telêmaco Borba, na região central do Paraná), seguindo-se as demais.
Como consequência dos ataques, dos cerca de cem mil índios que estavam reduzidos não restaram mais do que 12 mil, concentrados principalmente nas reduções de San Ignácio Mini e Nossa Senhora de Loreto - que não chegaram a ser atacadas -, as mais afastadas. Com a ruína das missões, também as povoações espanholas de Vila Rica e Ciudad Real não resistiram aos ataques e foram devastadas, passando todo o território paranaense ao controle da Coroa portuguesa. Vila Rica foi refundada próximo a Assunção, onde ainda permanece.

A grande viagem pelo Paraná

Para salvar o que restava dos índios, os jesuítas, sob o comando do padre Antônio Ruiz de Montoya, realizaram, em 1631, uma das mais dramáticas e extraordinárias fugas, para levar os mais de 12 mil sobreviventes das missões, no atual Paraná, para terras da atual Argentina.
Eles foram transportados inicialmente por cerca de 700 canoas, que, no entanto, não puderam transpor as quedas (inundadas para a formação do lago da hidrelétrica de Itaipu) existentes no rio Paraná, na atual cidade de Guaíra.
Com a aproximação dos bandeirantes, as canoas foram lançadas nas quedas, e os índios seguiram a pé, dividindo-se em dois grupos: o mais numeroso foi para as reduções de Santa Maria a Maior e Natividad, às margens do Iguaçú, próximo à atual cidade de Foz do Iguaçú, aumentando a miséria que já existia por ali.
O outro seguiu para a atual Argentina, reconstruindo as reduções de Loreto e San Ignácio Mini às margens do rio Jubaburu, depois de andarem entre 1.500 e dois mil quilômetros.
Os índios que ficaram em Natividad e Santa Maria a Maior também tiveram que migrar pouco tempo depois, deslocando-se para as margens do rio Uruguai, em retirada menos dramática que a anterior, mas também muito difícil, formando uma nova redução de Santa Maria, no atual território argentino, próximo a San Javier. A causa da migração foi a mesma: ataques dos bandeirantes.
Muito bem sucedidas em seus primeiros ataques aos índios, as bandeiras continuaram rumando para o Sul. Em território do atual Rio Grande do Sul - nas antigamente conhecidas províncias da margem esquerda do Uruguai e do Tape -, os ataques dos bandeirantes começaram em 1636, quando foi tomada e totalmente destruída a redução de Jesus Maria, a mais avançada para Leste, contendo o projeto dos jesuítas de ligar a Província do Uruguai ao litoral.
O padre Cristóvão de Mendoza, que também havia participado da organização dos índios no Guairá, e da dramática fuga para a atual Argentina, encontrava-se nessa época no Tape e tentou organizar uma resistência em Jesus Maria, mas foi morto e trucidado perto da atual cidade de Caxias do Sul pelos índios ibianguaras, da tribo dos ibirajaras, que dominavam a chamada Província dos Ibiaças.
Por nova coincidência, Raposo Tavares, comandante das bandeiras que destruíram as reduções no Guairá, também estava à frente da bandeira que destruiu Jesus Maria, onde foi instalado uma espécie de quartel-general dos bandeirantes, do qual se comandou a destruição de São Cristóvão, São Joaquim, Sant'Ana; e, pela bandeira de André Fernandes, as reduções de Santa Teresa, Apóstolos, São Carlos e Candelária, embora os jesuítas tivessem ameaçado e depois concretizado a excomunhão de todos os os envolvidos nos ataques.

Destruição do Tape

Praticamente todas as reduções do Tape foram destruídas entre 1636 e 1639, quando os indígenas conseguiram organizar-se melhor e terminar por derrotar os bandeirantes.
Antes, porém, transferiram-se maciçamente para o atual território argentino, formando novas reduções, algumas vezes com o mesmo nome, das quais ainda podem ser vistos vestígios no quadrilátero entre San Javier, Apóstoles, Posadas e San Ignácio Mini, entre os rios Uruguai e Paraná, localização que os jesuítas consideravam mais segura e fácil de proteger dos ataques vindos de São Paulo.
Os povos das reduções do Tape começaram a cruzar o rio Uruguai em 1637, formando, do lado argentino, as reduções de Apóstolos, Candelária, São Pedro e São Paulo, São Carlos, São José, São Miguel, Sant'Ana, São Tomé, La Cruz (ou Santa Cruz) e Santos Mártires do Japão.
A grande desvantagem dos índios nos enfrentamentos com os bandeirantes era a falta de armas. Em 1639, no entanto, o padre Antonio Ruiz de Montoya resolveu solicitar, diretamente de Madri, autorização para armar os índios, que foi conseguida ao mostrar que a própria Coroa espanhola vinha sendo prejudicada com o que acontecia, na medida em que perdia terras para a Coroa portuguesa.
Armando um primeiro contingente, os jesuítas conseguiram, ainda no mesmo ano, reverter a situação, e venceram a terceira bandeira enviada contra as reduções do Tape, comandada por Fernão Dias Paes. A resistência indígena foi dirigida por Nicolau Nhenguirú, nome dado, em diversas gerações, a alguns dos mais bravos caciques da República Guarani. A primeira batalha vencida por eles ocorreu em Caaçapaguaçu. A segunda, mais importante, foi em Mbororé, depois da qual as reduções não foram mais perturbadas por cerca de cem anos.

As reduções no Paraguai

Oe jesuítas também procuraram formar algumas reduções no Norte do atual Paraguai, próximo às regiões do Chaco e Pantanal, ao mesmo tempo que realizaram a expansão rumo a Guairá e Tape, sofrendo a resistência de "encomenderos", que dificultaram a implantação do primeiro aldeamento em Guarambaré.
Continuaram os esforços nos anos seguintes e, quando, em 1633, estavam prestes a formar quatro reduções na chamada Província do Itatim, houve o ataque da bandeira de Ascenso Quadros, auxiliada por moradores locais de Santiago de Xerez, descontentes com o abandono do governo de Assunção. Muitos índios foram aprisionados, mas os padres conseguiram a libertação de um dos principais líderes e, em 1634, formaram as reduções de Nossa Senhora da Fé e San Ignácio de Caaguaçu (diferente de San Ignácio Guazu, a primeira a surgir), por sua vez atacada em 1657 pela bandeira de Raposa Tavares, numa incursão que tinha o objetivo de chegar à região amazônica passando pelo Peru. Foi novamente grande o número de índios aprisionados e outros fugiram, agraupando-se nas reduções próximas daquelas.
Sem o apoio do governo de Assunção, que retirou os jesuítas do comando dessas reduções, colocando em seus lugares padres seculares, praticamente desapareceram os aldeamentos do Itatim, cujas reduções somente ressurgiram em 1669, mas mais ao Sul, próximo a San Ignácio Guazu, com os nomes de Santa Maria da Fé e Santiago.
Ainda em território do atual Paraguai foram constituídas por volta de 1637 as reduções de La Santíssima Trinidad e San Cosme y San Damian, com indígenas oriundos das reduções do Tape, no atual Rio Grande do Sul.
Em 1685 foi fundada a redução de Jesus, mudada de local quatro vezes; e, em 1698, a de Santa Rosa de Lima, com índios que se separaram de Santa Maria da Fé.
Anos antes, a redução de Encarnación, Itapua ou Nuestra Señora de la Encarnación de Itapua, que originalmente se situou na margem direita do rio Paraná, no atual território argentino, se mudou para a margem esquerda, no atual território paraguaio, ficando assim completado o leque das oito reduções que se fixaram no Paraguai, com as quais se deu entrada, em áreas do atual país do Paraguai, à segunda fase das reduções, mais calma e prolongada. Foi ainda nesse período que a redução de Corpus passou de um lado ao outro do rio Paraná, deixando o atual Paraguai e se instalando na atual Argentina.
Os ataques dos bandeirantes, todavia, já haviam feito grande devastação em toda a área - destruíram pelo menos 30 reduções no Guairá, Tape, Uruguai e Itatim, escravizando ou matando, até 1650, pelo menos 300 mil índios, segundo cálculos oficiais citados nos editos do rei espanhol Felipe V, em 1639 e 1668. A partir desse grande rombo é que se construiu a segunda fase, não tão preocupada com expansão, concentrando-se mais na consolidação e fortificação dos lugares conquistados.
A Terceira fase das Missões
Com a derrota dos bandeirantes em Mbororé e o período de calma que se sucedeu, a República Guarani passou a ganhar nova geografia, com parte dos povos que se situaram no atual território argentino (margem esquerda do rio Uruguai) voltando às terras de origem, no lado brasileiro (margem direita).
Antes desses movimentos, a situação era a seguinte:
GUAIRÁ, ATUAL PARANÁ: nenhuma redução. As que não foram destruídas, San Ignácio Mini e Nossa Senhora de Loreto, ao Norte, e Santa Maria a Maior e Natividad, ao Sul, mudaram-se para território argentino.
TAPE, ATUAL RIO GRANDE DO SUL: nenhuma redução. Foram todas destruídas pelos bandeirantes e os índios sobreviventes migraram para a margem direita do rio Uruguai, e margens esquerda (Argentina) e direita (Paraguai) do rio Paraná.
MARGEM DIREITA DO RIO PARANÁ, ATUAL PARAGUAI: de Assunção, a capital, no sentido da atual cidade de Encarnación, foram constituídas, após os diversos movimentos entre a formação de San Ignácio Guazu, a retirada do Itatim e a transmigração do Tape, as seguintes reduções - além de San Ignácio Guazu, as de Santa Maria de la Fé, Santa Rosa de Lima, Santiago, Jesus, La Santíssima Trinidad, San Cosme y San Damian e Nuestra Señora de la Encarnación de la Itapua ou, simplesmente, Encarnación ou Itapua.
ENTRE-RIOS (ENTRE OS RIOS URUGUAI E PARANÁ), ATUAL TERRITÓRIO ARGENTINO: além de San Ignácio Mini e Nuestra Señora de Loreto, transmigradas do Guairá (Paraná) e Santa Maria la Mayor, transmigrada do Iguaçu, existiam as reduções de Concepción de Nuestra Señora ou Concepción, San Miguel, Corpus ou Corpus Christi, Candelária, San Javier ou San Francisco Xavier; Santos Apostoles ou Apostoles San Pedro y San Pablo; Mártires ou Santos Mártires do Japão; La Cruz ou Santa Cruz; San Carlos, San José, San Thomé, Yapeyú ou Nuestra Señora de Yapeyú ou Nuestra Señora de los Três Reyes de Yapeyú e Assunción de Nuestra Señora de Mbororé ou Assunción.
Os sete povos de missões
Antes de se mostrar o retorno de parte dos povos ao território do atual Rio Grande do Sul, dando origem aos chamados Sete Povos das Missões, é importante mostrar algumas das causas e justificativas possíveis para esse novo grande movimento populacional comandado pelos jesuítas.
Em todas as reduções implantadas no Tape e na margem esquerda do Uruguai, havia já, quando da transmigração, boa infra-estrutura montada, especialmente a formação de enormes estâncias, que se estendiam até próximo de Montevidéu, capital do Uruguai, com a criação de milhares de cabeças de bovinos e eqüinos, especialmente bovinos.
O gado foi introduzido no Paraguai por volta de 1555, procedente de São Vicente, no Brasil, no início de sua formação. Chegou a ser levado para as reduções ao Norte do rio Uruguai nos primeiros anos de seu desenvolvimento, mas as primeiras cabeças somente foram introduzidas na margem esquerda, ou seja, em atual território brasileiro, por volta de 1629, de acordo com a versão dos jesuítas. Alguns historiadores acreditam que a introdução tenha sido feita por João de Garay, um dos primeiros governadores do Prata, e ampliada por seu genro Hernando Artas de Saavedra, ou Hernandárias, depois governador do Paraguai, mas os jesuítas desmentem essa versão.
Seja cmo for, os rebanhos cresceram muito. E, procriando nas grandes estâncias das reduções que, efetivamente, se aproximavam de Montevidéu, proliferaram tranqüilamente após a transmigração para a margem direita do rio Uruguai. Mesmo depois da transmigração, os jesuítas continuaram enviando reprodutores para as estâncias das antigas reduções, proibindo que os índios vaqueassem nessas áreas, para que pudesse aumentar a reprodução. Somente a partir de 1677 os jesuítas permitiram que os índios das reduções da margem direita do Uruguai começassem a se abastecer com o gado da outra margem, nas pradarias do atual Rio Grande do Sul. Apenas os índios e jesuítas conheciam o potencial das chamadas vacarias, mas logo o segredo foi descoberto.
Em 1680 Portugal fundou a Colônia de Sacramento, no atual Uruguai, defronte a Buenos Aires, criando um território totalmente isolado de sua Colônia do Brasil, visto que o atual Rio Grande do Sul era área da Coroa espanhola.
Concretizada a fundação, a fortificação dos portugueses foi cercada por tropas espanholas enviadas de Buenos Aires, que ficaram ali por longo tempo, até receberem a ordem de ataque, afinal determinado e bem-sucedido. Durante o cerco, no entanto, as tropas de Buenos Aires tiveram contato com o enorme potencial bovino da região, ao descobrirem como os portugueses atendiam em parte suas necessidades alimentares: eles compravam gado dos índios charruas (inimigos do grupo guarani), que conseguiam burlar o cerco da parte oponente.
Nos anos seguintes houve grande pressão para exploração do potencial bovino da região e, em 1716, os jesuítas tiveram que começar a dar concessões a espanhóis, para captura de seus rebanhos.
Graças a isso, Montevidéu, Buenos Aires, Santa Fé e outras povoações já eram abastecidas com o gado das vacarias das reduções nos anos que se seguiram, e até os portugueses da Colônia de Sacramento, auxiliados por tribos de índios minuanos, se dedicaram à exploração e passaram a exportar, inclusive para a Europa, graxas obtidas a partir do gado capturado.
A Colônia de Sacramento mudou de mãos diversas vezes. Depois de ser tomada pelos espanhóis, voltou a ser devolvida aos portugueses em 1683, devido ao interesse das duas coroas em evitar uma guerra de maiores proporções.
Quase ao mesmo tempo, como conta Alfeu Nilson Mallmann, em seu livro "Retrato sem Retoque das Missões Guaranis", houve "a decisão dos jesuítas de novamente ocuparem as terras da margem esquerda do Uruguai, numa aparente atitude de se contrapor à permanência daquele enclave português no Prata (a Colônia de Sacramento) e que tornava clara a política de Portugal em querer ocupar todo o litoral atlântico até o estuário". Ele mesmo levanta a possibilidade de que as autoridades espanholas podem ter forçado os jesuítas a adotar essa atitude, de forma a que os índios missioneiros fossem um obstáculo ao avanço português.
Atendendo ou não ao pedido da Coroa Espanhola, ou simplesmente retornando às terras que julgavam de suas reduções e foram abandonadas depois dos ataques dos bandeirantes, os jesuítas comandaram o retorno à margem esquerda do rio Uruguai (Rio Grande do Sul) de parte dos povos transmigrados, em 1687.
Nesse ano fundaram a redução de São Francisco de Borja, atual cidade de São Borja, com índios oriundos da redução de São Tomé, do outro lado do rio, fundando, ainda no mesmo ano, as reduções de São Nicolau, São Luiz Gonzaga e São Miguel, com índios oriundos de Apóstoles, Conceição e São Miguel, na margem direita.
São Miguel foi a única que transmigrou totalmente, ocupando, no entanto, área diferente daquela onde se situam as ruínas de São Miguel, as quais ainda podem ser visitadas. Estabeleceu-se inicialmente nas margens do rio Jaguari, mas ainda antes de 1690 foi para sua última localização, em razão de uma "praga de tigres". Em 1690 parte da redução de Santa Maria la Mayor, na margem direita, forma na margem esquerda São Lourenço Mártir; em 1697, parte de São Miguel, que já estava superpovoada na margem esquerda, forma São João Baptista; e, em 1706, parte dos índios de Concepción forma Santo Ângelo Custódio (atual cidade de Santo Angelo).
São esses os chamados Sete Povos das Missões, no lado brasileiro: São Francisco de Borja, São Luiz Gonzaga, São Nicolau, São Miguel, São João Baptista, São Lourenço Mártir e Santo Ângelo Custódio.

O mapa final

Em meados do século XVIII ainda foram formadas mais três reduções ao Norte de Assunção, no Paraguai, completando o mapa da República Guarani numa terceira e derradeira fase.
Essas reduções, de acordo com os objetivos dos jesuítas, deveriam servir de apoio para a ligação com a chamada República dos Chiquitos, no Peru, e existem muito poucas informações sobre elas. Tratam-se das reduções de São Joaquim, Santo Estinislau e Belém, fundadas, respectivamente, em 1746, 1749 e 1760.
Completadas as implantações dessas reduções, o mapa da República Guarani em sua terceira fase era o seguinte, em meados do século XVIII:
NO ATUAL PARAGUAI, AO NORTE: Belém, São Estanislau e São Joaquim; ao Sul, Santa Maria da Fé, Santa Rosa, San Ignácio Guazu, Santiago, São Cosme, Jesus, Trinidad e Encarnación ou Itapua.
NA ATUAL ARGENTINA: Corpus, San Ignácio Mini, Loreto, Sant'Ana, Candelária, São Carlos, São José, Apóstoles, Concepción, Assunción, Santa Maria, San Javier, Mártires, São Tomé, La Cruz e Yapeyú.
NO ATUAL RIO GRANDE DO SUL: São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Lourenço, São Borja, São Miguel, São João e Santo Ângelo.

Fonte: http://www.cbtg.com.br